Aproximadamente
aos cinco anos de idade, minha família mudou-se para a residência dos meus avós
maternos. A casa deles é situada até hoje no mesmo lugar, na Avenida Henrique
Gallúcio, entre as ruas Jovino Dinoá e Leopoldo Machado, no bairro Central. A
vizinhança é antiga, a maioria mora ali a mais de cinqüenta anos e eu vivi até
me casar.
É impossível freqüentar aquele bairro sem
lembrar as inúmeras coisas que presenciei naquele lugar. As casas de madeira
ganharam estruturas de alvenaria, os comércios de bairro deram lugar ao
Shopping Macapá e as crianças da minha época viraram adultos, mas os vestígios de
tudo o que vi ainda estão presentes.
Uma
das marcas da minha infância ainda resiste ao tempo, na esquina da Avenida
Ataide Teive com a Rua Jovino Dinoá é possível ver uma casa de madeira, ainda
da mesma cor verde musgo. Lá era o comércio de um homem idoso, de pele
enrugada, cabelos brancos e olhos azuis, que se chamava Mariano. Minha mãe
tinha o péssimo hábito de freqüentemente mandar-me comprar várias coisas
naquele estabelecimento, tais como: pão, refrigerante, sabão, vassoura e tudo
mais que faltasse em casa.
Quando
eu era criança, poucas coisas assustavam-me tanto quanto ter que ir àquela
simplória loja. Você pode se perguntar como alguém de feição tão bondosa
poderia dar tanto medo, no entanto, eu lhe explico como. Aquele homem era um
velho exótico, possuía um comércio, mas não seguia os conceitos do capitalismo.
Vender era um passatempo, uma diversão e não sua profissão.
Eu
aprendi isso da maneira mais brusca que aquele senhor poderia demonstrar. Certo
dia, minha mãe enviou-me ao comércio com uma lista enorme de produtos. Quando
cheguei ao local, pedi com gentileza:
-
Seu Mariano, minha mãe quer duas caixas de sabão em pó, uma barra de sabão de
coco, uma vassoura, um rodo e três pacotes de prendedor de roupa.
E
ele respondeu estupidamente:
-
Diga a sua mãe que isso aqui não é supermercado, se ela quiser comprar mais de
um item de um mesmo produto tem que mandar você subir a ladeira (naquela época
o Santa Lúcia ficava na esquina da Avenida Ataide Teive com a Rua Leopoldo
Machado). O meu mercado é para as necessidades de todos, se todo mundo fosse
que nem a sua mãe, onde estaria o meu estoque?
Resultado:
Como uma filha bem mandada, eu entreguei o recado. Minha mãe ao ouvi-lo ficou
injuriada e me levou pelo braço de volta ao mercadinho. Lá chegando, ela fez um
barraco, gritou, xingou e no final comprou tudo o que ela queria. No entanto, o
velho Mariano nunca se esqueceu da minha cara!
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