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07/04/11

LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA


Aproximadamente aos cinco anos de idade, minha família mudou-se para a residência dos meus avós maternos. A casa deles é situada até hoje no mesmo lugar, na Avenida Henrique Gallúcio, entre as ruas Jovino Dinoá e Leopoldo Machado, no bairro Central. A vizinhança é antiga, a maioria mora ali a mais de cinqüenta anos e eu vivi até me casar.
 É impossível freqüentar aquele bairro sem lembrar as inúmeras coisas que presenciei naquele lugar. As casas de madeira ganharam estruturas de alvenaria, os comércios de bairro deram lugar ao Shopping Macapá e as crianças da minha época viraram adultos, mas os vestígios de tudo o que vi ainda estão presentes.
Uma das marcas da minha infância ainda resiste ao tempo, na esquina da Avenida Ataide Teive com a Rua Jovino Dinoá é possível ver uma casa de madeira, ainda da mesma cor verde musgo. Lá era o comércio de um homem idoso, de pele enrugada, cabelos brancos e olhos azuis, que se chamava Mariano. Minha mãe tinha o péssimo hábito de freqüentemente mandar-me comprar várias coisas naquele estabelecimento, tais como: pão, refrigerante, sabão, vassoura e tudo mais que faltasse em casa.
Quando eu era criança, poucas coisas assustavam-me tanto quanto ter que ir àquela simplória loja. Você pode se perguntar como alguém de feição tão bondosa poderia dar tanto medo, no entanto, eu lhe explico como. Aquele homem era um velho exótico, possuía um comércio, mas não seguia os conceitos do capitalismo. Vender era um passatempo, uma diversão e não sua profissão.
Eu aprendi isso da maneira mais brusca que aquele senhor poderia demonstrar. Certo dia, minha mãe enviou-me ao comércio com uma lista enorme de produtos. Quando cheguei ao local, pedi com gentileza:
- Seu Mariano, minha mãe quer duas caixas de sabão em pó, uma barra de sabão de coco, uma vassoura, um rodo e três pacotes de prendedor de roupa.
E ele respondeu estupidamente:
- Diga a sua mãe que isso aqui não é supermercado, se ela quiser comprar mais de um item de um mesmo produto tem que mandar você subir a ladeira (naquela época o Santa Lúcia ficava na esquina da Avenida Ataide Teive com a Rua Leopoldo Machado). O meu mercado é para as necessidades de todos, se todo mundo fosse que nem a sua mãe, onde estaria o meu estoque?
Resultado: Como uma filha bem mandada, eu entreguei o recado. Minha mãe ao ouvi-lo ficou injuriada e me levou pelo braço de volta ao mercadinho. Lá chegando, ela fez um barraco, gritou, xingou e no final comprou tudo o que ela queria. No entanto, o velho Mariano nunca se esqueceu da minha cara!

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