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14/06/11

RUÍDO: PRESENÇA, INTERFERÊNCIA E CONSEQUÊNCIA.


Carla Thereza dos Santos Hadad[1]
Darlhianne da Silva Luz[2]
Érica da Cruz Favacho[3]
Jefferson de Souza Souza[4]
Odilson Sousa Serra[5]


Resumo
Este trabalho se propõe a analisar e descrever o processo da comunicação, explanando detalhadamente seus elementos, ou seja, emissor, receptor, código, canal, mensagem, e referente. Explicando o conceito e a relevância destes durante o processo. Todavia, o trabalho relata como a presença desses elementos não torna, obrigatoriamente, o processo eficiente, ou seja, com feedback[6]. Partindo deste pressuposto, o foco deste artigo é o ruído, suas causas, suas consequências e os métodos de evitá-lo, já que, é necessário estudar o que provoca as falhas no processo da comunicação e como podemos impedir esses problemas. Ao longo desse trabalho faremos elucidações e exemplificações sobre os diversos motivos que levam ao ruído, assim como, dissertaremos sobre prejuízos causados por este. Finalizaremos com propostas para diminuir ou evitar a ocorrência do ruído durante o processo de comunicação.

Palavras-chave: Teoria da Comunicação. Mensagem. Ruído.


Abstract
This paper aims to analyze and describe the communication process, explaining in detail its entirety, ie sender, receiver, code, channel, message, and referent. Explaining the concept and relevance of the process. However, the paper reports the presence of these elements does not, necessarily, the process efficient, ie, with feedback. Under this assumption, the focus of this article is the noise, its causes, consequences and methods to avoid it, since it is necessary to study what causes the failures in the communication process and how we can prevent these problems. Throughout this work we will make clarifications and examples on the various reasons leading to noise, as well as elaborate on the damage caused by this.

Key words: Communication Theory. Message. Noise.


INTRODUÇÃO

A informação é a redução da incerteza sobre determinado assunto, sendo assim, quanto mais possibilidades de resultados, maior será a carga de informação contida na mensagem. A informação está ligada à ideia de novidade, improbabilidade, algo que não acontece normalmente em nosso dia-a-dia, ocorrendo através de um processo de comunicação onde exista emissor, código, canal e receptor.
O processo de comunicação ideal é o que ocorre feedback, resposta a mensagem recebida, porém ele só é estabelecido se a mensagem chegar ao receptor sem ruído, ou seja, sem elementos que a prejudique, sem a presença de algo que não faça parte da mensagem. No entanto, o ruído pode ser mais ou menos frequente na mensagem, sua presença vai depender do tipo de canal, pois alguns possuem mais vulnerabilidade do que outros. O entendimento errado da mensagem pode trazer efeito contrário ao desejado pelo emissor.
A redundância é um dos recursos que minimiza a presença de ruídos, bem como, ter domínio sobre o código no qual se estabelece a mensagem, já que este código foi criado para facilitar a comunicação entre o emissor e o receptor, servindo, portanto, de fator para a ausência de ruído. O código pode ser linguístico, gestual, ou através de qualquer outro meio em que o emissor e o receptor utilizem para emitir a mensagem, no entanto, ambos devem ter o conhecimento prévio do código para assim terem total compreensão da mensagem.
Nestas palavras desejamos propor uma breve recapitulação dos elementos envolvidos num processo de comunicação. A priori, ao diagnosticá-los e distingui-los partimos para o objetivo deste artigo que é detectar as possíveis interferências durante a comunicação e que danos o processo comunicativo pode sofrer por estas. Num segundo momento, este artigo deter-se-á em detectar as circunstâncias em que a mensagem sofre interferência de meios externos ao processo e que prejuízos isso pode-lhe causar.

1.    Elementos da comunicação

A necessidade de comunicar-se perdura na origem do homem visto a tentativa de fazer-se entender e transmitir seu pensamento. Este fazer-se compreender é identificado através da emissão de uma mensagem entre interlocutores, possibilitando desta forma o desenvolvimento de processo comunicativo entre os indivíduos.
            Neste sentido, portanto, distingue-se um dos elementos presentes num ato comunicativo, a mensagem. Esta pode ser transmitida de diversos modos, tais como: por palavras, gestos, desenhos, etc. Em cada situação um elemento pode ser ressaltado dado à pluralidade das competências comunicativas dos interlocutores.
            Para Santos (2010, p.10) os estudos de comunicação podem privilegiar o emissor, a mensagem, o código utilizado, o meio que difunde a comunicação, o receptor ou o efeito desse processo. Desta forma, quando um emissor transmite uma mensagem a um receptor utilizando-se de um meio (ou canal) podemos afirmar que se estabeleceu um processo de comunicação. Assim os elementos presentes neste processo (emissor, receptor, mensagem, canal, o contexto e o ruído) sofrem direta influência da intencionalidade e da receptividade da mensagem. Os elementos linguísticos, paralinguísticos, extralinguísticos e cinésicos são fatores influentes para o êxito do processo comunicativo.
            Um diagnóstico preliminar pode ser previsto quanto às interferências ou ruídos num processo comunicativo. De certo é que no emissor ou ainda no receptor existem algumas circunstâncias capazes de aumentar ou prejudicar a comunicação. O emissor necessita utilizar capacidades codificadoras que lhe permitam, por exemplo, dispor as palavras de forma a expressar com evidencia as ideias, empregado as regras gramaticais corretamente, pronunciando as palavras com clareza, bem como, conseguindo utilizar os vários canais à sua disposição.
            Podemos assim resumir a atuação e desempenho dos elementos da comunicação:
1.    Emissor: Aquele que emite uma mensagem a um destinatário. Para isso, utiliza-se de um código e canal.
2.    Receptor: a quem se destina a mensagem. Pode ser uma pessoa, um grupo ou mesmo um animal, como um cão, por exemplo.
3.    Código: a maneira pela qual a mensagem se organiza. O código é formado por um conjunto de sinais, organizados de acordo com determinadas regras, em que cada um dos elementos tem significado em relação com os demais. Pode ser a língua, oral ou escrita, gestos, código Morse, sons, etc. O código deve ser de conhecimento de ambos os envolvidos: emissor e destinatário. 
4.    Canal de comunicação: meio físico ou virtual, que assegura a circulação da mensagem, por exemplo, ondas sonoras, no caso da voz. O canal deve garantir o contato entre emissor e receptor.
5.    Mensagem: é o objeto da comunicação, é constituída pelo conteúdo das informações transmitidas.
6.    Referente: o contexto, a situação a qual a mensagem se refere. O contexto pode se constituir na situação, nas circunstâncias de espaço e tempo em que se encontra o destinador da mensagem. Pode também dizer respeito aos aspectos do mundo textual da mensagem.
Vejamos a seguir qual a relação destes elementos e de modo especial à presença do ruído, sua influencia e danos na comunicação. Este se trata de qualquer coisa que venha a interromper ou perturbar o processo de comunicação.

2.    O ruído

O processo de comunicação está suscetível a falhas, que vão desde as mais banais até as que comprometem por completo a assimilação da mensagem. Segundo Pignatari (1976, p.18), “[...] Tôdas as fontes de erros são agrupadas sob a mesma denominação de ruído ou distúrbio. [...]”, sendo assim, toda e qualquer obstrução que deturpe a informação durante sua emissão é denominada de ruído.
O ruído não se limita a barulhos que dificultam a audição das mensagens transmitidas oralmente, pelo contrário, ele também está presente nas mensagens emitidas por outros canais. Claude Shannon, autor da Teoria da Informação, afirmava que o ruído estava presente em todos os canais, podendo afetar totalmente a mensagem depois que a capacidade de transmissão de informações do canal fosse ultrapassada.
O ruído pode ser causado pelo emissor, canal e receptor. No primeiro caso, o emissor poder ser gago, ter a língua presa, ou qualquer outro impedimento que lhe impeça de emitir corretamente a mensagem. No segundo caso, o canal pode está com algum defeito, ou seja, telefone com chiado ou linha cruzada, folha impressa que foi borrada por água, entre outros casos. No terceiro caso, o ruído pode ser gerado quando o receptor tiver alguma limitação no recebimento da mensagem, como a surdez total ou parcial.
Nem sempre o ruído é provocado pelos elementos do processo de comunicação, também pode ser oriundo do ambiente onde se estabelece este processo.  Podemos citar como exemplo a interrupção que sofremos por alguém durante a leitura de um texto ou a dificuldade encontrada de conversar com um colega durante um show de música.
De acordo com Oliveira (2010, p. 31), o ruído pode ser classificado em dois grandes grupos, os que podem “[...] provocar uma perda total da mensagem. É o caso de um jornal que saia da gráfica totalmente empastelado. [...]” e os que levam a uma compreensão errada da informação, como por exemplo, falar “ele abriu o cocô” no lugar de “ele abriu o coco”.  O segundo tipo de ruído é o que ocorre com mais frequência, assim como defende Pignatari (1976, p.19), “[...] Os chamados erros de imprensa, as letras ou palavras mal grafadas, os lapsos de pronuncia são formas comuns de ruído. [...]”.
O ruído é prejudicial para a mensagem, no entanto, pode servir de parâmetro para evolução ou aprimoramento de vários sistemas, sendo assim, muito importante para a reorganização de algumas estruturas.

3.    Ruído consequência e exemplos

            No mundo atual, mesmo com o avanço da tecnologia nos meios de comunicação como internet, telefonia celular, TV, rádio, jornal, revista, entre outros, ainda assim acontecem perturbações que interferem na perfeita transmissão de informações.
            Essas dificuldades na comunicação, mais especificamente o ruído, geralmente são vistos como vilões nos processos de comunicação, mas Epstein (apud OLIVEIRA, 2010, p. 32) lembra, no entanto, que “o ruído pode se tornar um importante fator de reorganização do sistema”.
            Muitas vezes a criação de coisas novas surge de um processo de ruído. O champanhe, por exemplo, foi um vinho que fermentou [...] o movimento hippie, quando surgiu, era um ruído para a sociedade da época, no entanto, não fosse o movimento hippie, talvez hoje não estivéssemos tão preocupados com questões essenciais para a sociedade atual, como a ecologia. (OLIVEIRA, 2010, p.32)
            Como vimos o ruído acaba tendo seus pontos positivos, contribuindo em diversos seguimentos, mas não podíamos deixar de mencionar o ruído como algo a ser evitado, mais especificamente para se ter eficiência na comunicação. Uma das consequências causadas pelos ruídos são as falhas e até mesmo excessos de informações indesejáveis que comprometem a eficácia nos processos de comunicação, provocando distorções no curso da mensagem.
            O exemplo abaixo de (GOIS, 2011) mostra como o ruído pode aparecer em diversas situações em nosso dia a dia:

Vou me sentar ao lado da galinha, - disse um profissional que chegou tarde para um jantar com clientes e viu um único lugar vazio à mesa. (era ao lado de uma senhora, tendo à frente de sua cadeira vaga uma galinha que seria servida para o jantar). Notando a garfe que cometeu, o profissional tentou corrigir dizendo: - Ora, eu estou me referindo a esta aqui (e apontou para a galinha que estava sendo servida à mesa). Desnecessário dizer que a emenda ficou pior que o soneto. (GOIS, 2011)
           
Como menciona Carvalho, (1995, p. 82), “o ruído é identificado na comunicação humana como o conjunto de barreiras, obstáculos, acréscimos, erros e distorções que prejudicam a compreensão da mensagem em seu fluxo: emissor x receptor e vice-versa”. 
Percebe-se com isso que por mais que existam esforços para transmitir uma mensagem de maneira incessante e com boa qualidade, nem sempre ela vai chegar de maneira íntegra ao receptor.

4.    Modos de evitar o ruído na comunicação

O processo de comunicação é constituído por elementos necessários e importantes, que possibilitam a interação dos sujeitos envolvidos no processo. Para que uma comunicação aconteça plenamente entre estes sujeitos, ela deve ser feita a partir da plena observação de cada um destes elementos. Caso contrário, sabe-se que acontecerá uma comunicação com interferências indesejáveis e problemas, que afetarão o processo, ou seja, que darão espaço para a ocorrência de ruído.
Para evitar o ruído na comunicação deve-se proceder de maneira a valorizar o papel e importância do receptor. Ele tem interesses no processo e, por isso, é preciso levá-lo em consideração para que o processo seja eficiente. O receptor necessita decifrar e compreender o que o emissor deseja informar, para assim, proporcionar o feedback.
A redundância também pode ser uma forma de evitar o ruído, pois ela pode garantir que a mensagem enviada pelo emissor chegue até o receptor. Por isso, primeiro precisa-se entender o que é redundância para assim, observar seu uso como recurso que evita o ruído. Para Coelho Netto (2001, p. 135), “Redundância é o que é ‘dito’ (verbal ou graficamente, ou por outro meio qualquer) em demasia com a finalidade de facilitar a percepção e compreensão da mensagem. [...].”
Neste sentido Oliveira (2010) ressalta que é a redundância que garante a integridade da mensagem frente aos possíveis ruídos a que o canal está vulnerável. Isto se torna necessário, porque quanto mais importante a mensagem enviada, mais necessário se faz o uso da redundância para garantir o recebimento e entendimento de uma mensagem.

A redundância tem também um papel importantíssimo no processo de comunicação. Ela é usada para combater ruídos que possam obstruir o canal. Essa é a razão pela qual, por exemplo, nós batemos várias vezes na porta de uma casa quando queremos ser atendidos pelos moradores. Bater uma única vez já transmitiria a mensagem, mas nós a reforçamos a fim de garantir que o receptor irá recebê-la. (OLIVEIRA, 2010, p. 28).

 É por isso que se deve levar em consideração todos os elementos do processo de comunicação, pois eles se influenciam reciprocamente, e tal dependência é fundamental no momento das decisões e atitudes que seguem as relações de comunicação.
Portanto, a comunicação de uma forma geral deve buscar a superação dos ruídos que surgem entre quem está se comunicando, por mais que seja difícil, visto que, como já foi dito, é algo que acontece de maneira inesperada e indesejável. Os meios que trabalham com a comunicação estão, portanto, inseridos neste contexto, cabendo a eles, também, buscar a fidelidade daquilo que é repassado e o que é recebido. É um compromisso com a mensagem transmitida que não pode chegar ao receptor de forma distorcida, senão, não cumprirá seu objetivo primeiro, que é comunicar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O emissor é o primeiro elemento do processo comunicativo, parte dele dar origem à informação contida na mensagem, e para que ela chegue ao seu destino, ele utiliza um código e um canal para formalizar esse processo. O receptor é o agente que receberá essa comunicação e o entendimento da mensagem adquirido nesta ação poderá originar um feedback, que é a resposta ao estimulo.
O ruído é composto por todo e qualquer elemento que interfira nesse processo de comunicação. Sua presença pode gerar tanto leves distorções até a ausência total da compreensão da mensagem.
Poderíamos comparar o prejuízo causado pelo ruído, como os problemas advindos da chuva numa escultura de areia. Se for apenas um chuvisco leve, os pingos farão pequenos borrões na obra, mas ainda conseguiremos enxergar toda a sua estrutura. Todavia, se for uma tempestade a escultura perderá sua forma e não deixará vestígio que possa levar a sua compreensão.
O ruído pode ser causado por falhas do emissor, receptor, canal e código, porém também pode ser causado por fatores externos ao processo de comunicação, como o ambiente. Uma maneira eficiente de driblar o ruído é ser redundante, pois quanto mais vezes repetimos a mensagem, menores são as chances de haver falhas na compreensão do conteúdo repassado.
Repassar continuamente o conteúdo da mensagem pode parecer monótono, mas para o processo da comunicação isso é primordial, porque manter uma comunicação sem redundância limita a possibilidade do receptor recorrer a informação para uma fixação do conteúdo que está recebendo.  Um exemplo clássico disto é a brincadeira infantil do “telefone sem fio”, onde as crianças sentadas em circulo tecem um pequeno recado para o colega ao lado, que terá a missão de repassar ao próximo e assim sucessivamente. Como a brincadeira proíbe a repetição da mensagem, geralmente ela chega distorcida e incoerente.
Já no rádio, como os profissionais da área possuem uma compreensão da necessidade da redundância, constantemente há uma repetição da mensagem, para que o receptor a assimile com mais facilidade. É importante ressaltar que o ruído é prejudicial para a mensagem, no entanto, é muito útil para a renovação de alguns sistemas, pois serve como recurso para a criação de novos padrões.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, A. V.; SERAFIM, O.C. G. Administracção de recursos humanos. 2ª ed. São Paulo: Pioneira, 1995.
COELHO NETTO, J. Teixeira. Semiótica, informação e comunicação. 5ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

GÓIS, Maurício. Comunicação: Os 21 ruídos da comunicação verbal. Disponível em: . Acesso em 26 mai. 2011.

OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de. Introdução à cibernética. 1ª ed. Pará de Minas: Editora VirtualBooks, 2010.
PIGNATARI, Décio. Informação, Linguagem, Comunicação. 7ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1976.
SANTOS, Roberto Elísio dos. As teorias da comunicação: da fala à internet. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2010.


[1] Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. Acadêmica do Curso de Jornalismo (UNIFAP). E-mail: kirei.hana.hadadcarla@gmail.com
[2] Acadêmica do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. E-mail: darlihanneluz@hotmail.com
[3] Bacharel em Letras – Tradutor pelo Instituto de Ensino Superior do Amapá – IESAP. Acadêmica do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP. E-mail: erica_favacho@yahoo.com.br
[4] Licenciado em Letras pela Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. Acadêmico do Curso de Jornalismo. (UNIFAP). E-mail: jeffsouzamj@gmail.com
[5] Acadêmico do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. E-mail: odsserra@yahoo.com.br
[6] Reação a comunicação, estímulo, transmissão.

Como é possível perceber, esse texto foi uma criação em conjunto!

04/05/11

POLUIÇÃO NAS ÁREAS DE RESSACA EM MACAPÁ


O termo regional ressaca serve para titular as áreas alagadas, ricas em biodiversidades, comuns no estado do Amapá. Estes locais possuem uma importância impar para o ecossistema local, pois regulam o clima, são berçários de inúmeras espécies e auxiliam na circulação e equilíbrio das águas fluviais e pluviais.
Apesar do inestimável valor das ressacas, o município de Macapá, desde a década de 50, vem sofrendo com a ocupação desordenada dessas áreas, o que tem provocado a devastação desses ecossistemas. A cada ano aumenta, em grande escala, o número de famílias que desmatam, aterram, constroem palafitas e poluem as ressacas.
Ao visitarmos os locais invadidos pela população, encontramos um cenário lastimável de sujeira e fedor, pois a comunidade degrada o local com lixos e dejetos. É inerente a estas ocupações o acumulo de garrafas pets, sacos e demais embalagens plásticas abaixo das casas, bem como, pelo desprovimento de esgoto, o despejo nas águas de fezes, urinas e restos de alimentos.
O governo do estado e a prefeitura de Macapá são cúmplices dessa destruição ambiental, pois não investem em políticas eficientes no combate da ocupação das ressacas. A lei estadual quatrocentos e cinqüenta e cinco de noventa e nove, que trata da proteção dessas áreas, foi criada a mais de uma década e mesmo assim não é aplicada pelo poder público, que aceita passivamente o extermínio desses berços naturais, já que não toma nenhuma providência enérgica.
As entidades estaduais, em parceria com as municipais, poderiam fixar e trabalhar soluções que vão desde medidas sócio-educativas até a utilização da verba federal, disponível através do projeto minha casa minha vida, na construção de moradias propicias. São sugestões de ideias para aplicabilidade local em curto prazo. Conscientização através da reeducação social da comunidade de baixa renda, retirada dos invasores, criação de projetos habitacionais que abrigue todos moradores desalojados, proibição severa e multa para os que transgredirem as ressacas, e o desenvolvimento de estratégias para revitalizar as áreas afetadas.

11/04/11

A RELAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DE KARL MARX E O POEMA “OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO” DE VINÍCIUS DE MORAES


OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

Vinícius de Moraes


Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.


(do livro Antologia poética, de Vinícius de Moraes, editora José Olympio, 21ª ed., 1982, p. 205-210)

Ao analisarmos o poema “Operário em construção” de Vinícius de Moraes notaremos várias similaridades com os ideais difundidos por Karl Marx na formulação do socialismo científico. No poema, o eu-lírico narra o processo de conscientização de um operário, suas reflexões diante de sua situação, sua luta em prol de suas idéias e a busca pelos seus anseios.
Através de fragmentos do poema, podemos inferir que o operário era um indivíduo alienado, ou seja, que construía prédios e não tinha noção do processo econômico ao qual estava inserido. Ele era apenas mais um trabalhador que não teria condições de alterar seu poder aquisitivo, mantendo-se escravo daquele processo contínuo de exploração por uma classe dominante: “Era ele que erguia casas / Onde antes só havia chão. / [...] Mas tudo desconhecia / De sua grande missão: / [...] Como tampouco sabia / Que a casa que ele fazia / Sendo a sua liberdade / Era a sua escravidão.”. Esses conceitos surgiram através do “Manifesto do Partido Comunista”, onde Engels e Marx descrevem a permanente exploração do proletariado pela burguesia:
“Na mesma proporção em que se desenvolve a burguesia, ou seja, o capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que vivem apenas na medida em que  encontram trabalho e que só encontram trabalho na medida em que seu trabalho aumente o capital. Tais operários, obrigados a se vender peça por peça, são uma mercadoria como qualquer outro artigo de comércio e estão, portanto, expostos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado.
O desenvolvimento da maquinaria e a divisão do trabalho levam o trabalho dos proletários a perder todo o caráter independente e com isso qualquer atrativo para o operário. Esse se torna um simples acessório da máquina, da qual só se requer a operação mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender. [...]” ENGELS e MARX (1996, p. 72)
Nas estrofes seguintes, podemos deduzir que o eu-lírico afirma que o operário sequer conseguia refletir sobre o valor do seu trabalho e o valor das mercadorias que consumia: “De fato, como podia / Um operário em construção / Compreender por que um tijolo / Valia mais do que um pão? / Tijolos ele empilhava / Com pá, cimento e esquadria / Quanto ao pão, ele o comia... / Mas fosse comer tijolo!”. Logo, vemos nitidamente, a caracterização do conceito da mais-valia, que nada mais é que o mecanismo de dominação desenvolvido pela burguesia, onde se defini um valor aos produtos produzidos pelo operário e um valor para a remuneração da força de trabalho deste mesmo operário, onde o primeiro sempre será superior ao segundo, propiciando o enriquecimento da burguesia e o endividamento do proletariado. Defendida por ENGELS e MARX da seguinte maneira:
“O preço médio do trabalho assalariado é o mínimo de salário, ou seja, a soma dos meios de subsistência necessários para que o operário viva como operário. Portanto, o que o operário assalariado obtém com sua atividade apenas é suficiente para reproduzir sua pura e simples existência. De modo algum pretendemos abolir essa apropriação pessoal dos produtos do trabalho necessários à reprodução da vida imediata, apropriação essa que não deixa nenhum lucro líquido (Reinertrag) capaz de conferir poder ao trabalho alheio. [...]”. (1996, p. 73).
Dando seqüência ao poema, verificamos que o eu-lírico descreve como o operário ao ponderar sobre os bens materiais que o cercam e o seu trabalho, inicia seus questionamentos sobre sua condição naquela sociedade, dando início a sua transformação: “De forma que, certo dia / À mesa, ao cortar o pão / O operário foi tomado / De uma súbita emoção / Ao constatar assombrado / Que tudo naquela mesa / – Garrafa, prato, facão – / Era ele quem os fazia / Ele, um humilde operário, / Um operário em construção. / Olhou em torno: gamela / Banco, enxerga, caldeirão / Vidro, parede, janela / Casa, cidade, nação! / Tudo, tudo o que existia / Era ele quem o fazia / Ele, um humilde operário / Um operário que sabia / Exercer a profissão. / Ah, homens de pensamento / Não sabereis nunca o quanto / Aquele humilde operário / Soube naquele momento!”. Podemos inferir que a partir deste momento o operário deixa de ser alienado, pois percebe seu valor dentro do sistema capitalista, pois ele não produz apenas produtos, ele dá alicerce para a constituição de uma sociedade, passando a assumir uma postura crítica.
Nas estrofes seguintes, o eu-lírico relata como o operário irá divulgar seus ideais, unir o proletariado e batalhar pela validação de suas aspirações: “O que o operário dizia / Outro operário escutava. / E foi assim que o operário / Do edifício em construção / Que sempre dizia sim / Começou a dizer não.”. Essa luta do proletariado é anunciada por ENGELS e MARX:
“O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia começa com sua própria existência.
No princípio, lutam operários isolados, depois os operários de uma mesma fábrica, a seguir os operários de um mesmo ramo da indústria, numa dada localidade, contra o burguês singular que os explora diretamente. Dirigem seus ataques não apenas contra as relações burguesas de produção, mas contra os próprios instrumentos de produção; destroem as mercadorias estrangeiras que lhes fazem concorrência, quebram as máquinas, incendeiam as fábricas, procuram reconquistar pela força a desaparecida posição do trabalhador na Idade Média.” (1996, p. 81)
Na continuação do poema, o eu-lírico expõe os abusos físicos que o sistema capitalista impõe ao operário como forma de repressão: “Viu-se súbito cercado / Dos homens da delação / E sofreu, por destinado / Sua primeira agressão. / Teve seu rosto cuspido / Teve seu braço quebrado / Mas quando foi perguntado / O operário disse: Não!”. O objetivo daquela ação era reverter o pensamento do operário através da violência, porém ele se mantém firme em suas convicções. A tortura do proletariado é um dos artifícios de poder usado pelo sistema de governo do capitalismo para abafar as greves e protestos dos operários. Essas manifestações de excesso do governo são apresentadas por ENGELS e MARX: “Foi o complemento açucarado dos amargos tiros de fuzil e chicotadas com os quais aqueles mesmos governos respondiam aos levantes dos operários alemães.” (1996, p. 93)
Através de fragmentos do poema, podemos deduzir que o patrão buscou outro meio de persuadir o operário, visto que, a repressão física não conseguiu manipulá-lo: “Sentindo que a violência / Não dobraria o operário / Um dia tentou o patrão / Dobrá-lo de modo vário. / [...] Fez-lhe esta declaração: / – Dar-te-ei todo esse poder / E a sua satisfação / Porque a mim me foi entregue / E dou-o a quem bem quiser. / [...] Portanto, tudo o que vês / Será teu se me adorares / E, ainda mais, se abandonares / O que te faz dizer não. / [...] E o operário disse: Não!”. No entanto, o operário estava convicto de sua luta. Ele negou os bens materiais que lhe foram ofertados, porque sabia que todas aquelas riquezas eram fruto da exploração que era imposto a ele e os demais de sua classe.
Analisando de forma geral o poema, podemos inferir que o eu-lírico caracteriza aquele indivíduo como um operário em construção, já que, foi através do processo de exploração de sua força de trabalho que o operário desenvolveu sua capacidade de refletir sobre suas ações. De um ser alienado a um revolucionário, esse foi o desabrochar proposto pelo poema.

08/04/11

O PODER DOS BLOGS NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS BRASILEIRAS DE 2006


BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; BRITTOS, Valério Cruz. Blogosfera, espaço público e campo jornalístico: o caso das eleições presidenciais brasileiras de 2006. In: INTERCON – Revista Brasileira de Ciência da Comunicação (São Paulo-SP) v. 33, n. I, 2010, p. 237-256.

O Dr. BOLAÑO, professor na Universidade Federal de Sergipe – UFS e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de Brasília – UNB, é formado pela Universidade de São Paulo – USP e obteve seu título em Economia pela Universidade de Campinas – Unicamp. Enquanto que, o Dr. BRITTOS, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, obteve seu título em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Faculdade de Comunicação – FACOM da Universidade Federal da Bahia - UFBA.
O artigo “Blogosfera, espaço público e campo jornalístico: o caso das eleições presidenciais brasileiras de 2006” descreve como os blogs jornalísticos veicularam notícias com perspectivas contrárias as divulgadas pela grande imprensa, em especial a televisiva, durante as eleições presidenciais brasileiras de 2006. Ao analisar vinte e três blogs que reportavam sobre o tema, constatou-se que a blogosfera desencadeou a postura avessa a manipulação da cobertura eleitoral promovida pela mídia.
A introdução aborda como a teoria da Economia Política da Comunicação (EPC) serviu de alicerce para a pesquisa, visto que, explica as chamadas lógicas sociais e o processo de substituição do trabalho intelectual cultural dos profissionais de jornalismo. Em seguida, comenta como alguns blogs foram antagônicos a grande mídia, o que acabou por influenciá-las, bem como, o debate político nacional. Finalizando com a apresentação dos dois instrumentos utilizados para atingir o objetivo da pesquisa, ou seja, a “[...] captura e análise de dados revisão bibliográfica e a análise de blogs que [...] foram considerados representativos da abordaram da temática eleitoral, durante o mês do pleito em foco.” (BOLAÑO; BRITTOS, 2010, p. 240)
O primeiro capítulo, Internet, esfera pública e o fenômeno dos blogs, descreve como a estrutura da esfera pública, após a reestruturação do capitalismo, tornou-se, segundo BOLAÑO e BRITTOS, “[...] privatizada, fragmentada, assimétrica e excludente, mas também interativa e dialógica, quando comparada com a anterior, e, nesse sentido, potencialmente democrática.” (2010, p. 241). Posteriormente, há uma análise tanto da evolução da Televisão de massa até o surgimento da informática, quanto da Internet, produto criado e alimentado pelo capitalismo, que é reformulador dos métodos de trabalho e do consumo.
Este capítulo, também aborda como a TV massiva usa recursos para manipular a sociedade, assim como, a Internet tem servido de ambiente para contrapor essa ação. Na seqüência, descreve como o blog, por ser uma ferramenta fácil e acessível, tem servido como eficiente veículo de informação, exemplificando através do Blog da Ocupação. Essas características dos blogs, aliadas ao poder intelectual dos jornalistas, têm influenciado a grande mídia e o debate público, logo, esse meio de comunicação ganhou relevância na economia política da Internet, pois é desassociado dos interesses dos empresários deste ramo.
O capítulo, Escândalos e eleições, descreve o cenário político das eleições presidenciais brasileiras de 2006, ressaltando que os candidatos com mais evidência eram Geraldo Alckmin e Luiz Inácio Lula da Silva, sendo que, as pesquisas apontavam a reeleição de Lula no primeiro turno. Em seguida, faz um retrospecto, entre a relação da mídia com o governo, durante as CPI´s (“do fim do mundo”, “dos Correios” e “do Mensalão”) ocorridas entre 2004 e 2005 no Brasil, assim como, as repercussões geradas por esses escândalos de corrupção, que culminaram na reforma ministerial.
Este capítulo, também discorre sobre a “CPI das sanguessugas”, operação que movimentou R$ 110 milhões com a fraude na venda de ambulâncias, envolvendo diversos partidos políticos. O enfoque promovido pela grande imprensa, a respeito desta CPI, refletiu em acusações e suspeitas sobre o PT e o presidente Lula.
O dossiê da mídia, terceiro capítulo, trata tanto do dossiê, sobre José Serra, entregue a Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha da Silva, que se tornou trunfo contra o então Presidente e candidato a reeleição, quanto das demissões geradas por essa denúncia. Posteriormente, o artigo descreve as ações tomadas pela grande mídia, apresentadas da seguinte maneira:

“[...] No dia 29 de setembro, véspera do primeiro turno, o Jornal Nacional, da Rede Globo, principal fonte de informação da população brasileira, apresentou, com grande destaque, fotos tomadas irregularmente pelo delegado Edmilson Bruno, da Polícia Federal, do dinheiro apreendido com Gedimar e Valdebran. O repórter César Tralli, da Globo, recebera, segundo informou á Carta Capital, em primeira mão, o CD distribuídos à imprensa pelo delegado, o que desencadeou, naturalmente, intensos movimentos na redação do telejornal. Depois de entregar o material a Tralli, o delegado reuniu-se com outros quatro jornalistas [...] para repassar outro CD, a fim de quer fosse copiado. Luiz Carlos Azenha foi o primeiro a divulgar, em seu blog, trechos da conversa do delegado com os jornalistas. Em seguida, Paulo Henrique Amorim veiculou o áudio e uma transcrição sumária da fita; logo Azenha liberou o texto completo.” (BOLAÑO; BRITTOS, 2010, p. 248).

O Jornal Nacional, ao apresentar as fotos, omitiu o acidente com o avião da Gol e a existência da fita de áudio veiculada por Amorim. Essas ações, assomadas com as promovidas pela Veja, levaram a revista Carta Capital a denunciar o “dossiê da mídia”, matéria que passou a ser divulgada pelos jornais televisivos da TV Record e TV Bandeirantes. No entanto, foram os blogs jornalísticos que geraram discussões, pelos profissionais da área, sobre as atitudes da grande imprensa.
As Considerações conclusivas apresentam como os blogs servem de mediadores da informação veiculada na mídia de massa, pois não submissos aos interesses dos detentores dos meios de comunicação, podendo assim, mostrar todas as perspectivas de uma notícia. A blogosfera é um campo livre de atuação, que além de anunciar, vigiar e delatar a grande imprensa, servirá de mecanismo, assim como define BOLAÑO e BRITTOS, “[...] de recuperação do velho ideal burguês da liberdade de imprensa [...]” (2010, p. 252).
O presente artigo é desprovido de linguagem rebuscada e jargões técnicos, o que permite a leitura e o fácil entendimento dos leitores sem conhecimento prévio extensivo do assunto.  O texto é de grande relevância para a área da comunicação social, pois apresenta como a filosofia do capitalismo vem corroendo a função de imparcialidade do jornalismo, ou seja, os profissionais que trabalham nas grandes empresas de comunicação, se vêem obrigados a direcionar suas matérias, para que as mesmas atendam aos interesses de seus patrões, sem, contudo, levar em consideração o dever social desta nobre profissão. Em contrapartida, apresenta o poder do blog, ferramenta acessível e gratuita, aos que desejam aderir à luta contra a deturpação da notícia.